sexta-feira, fevereiro 04, 2011

“Campos e SJB não podem ser uma nova Macaé!”

A afirmação acima, título deste texto, tem sido repetida, quase como um mantra, sem que se veja nela, um aprofundamento, e sem que se saiba, exatamente o quê se pretende evitar em relação aos problemas macaenses. E quais são os problemas na Macaé de hoje? Pouca atenção à perspectiva de aumento da população? Falta de habitação e saneamento? Violência? Desorganização e confusão ou falta de planejamento urbano? Tudo isto junto e mais algumas outras questões? Pois bem, nesta breve análise, é importante a gente não esquecer que estamos falando de uma mudança vivida ao longo de um período de mais de 35 anos. Pode-se recordar que o petróleo começou a ser explorado na Bacia de Campos, na base de Imbetiba da Petrobras, no ano de 1974.
Assim, o que se está se referindo é sobre a formação da cadeia produtiva, numa base técnica que opera e dá apoio ao segmento petróleo & gás. Na recepção de milhares de técnicos (incluindo aí os especialistas de nível superior) que para a Princesinha do Atlântico se mudaram. Noutros milhares que, embora controlados do continente (on-shore) se relacionam com a região via, as plataformas, onde aportam a cada 14 ou 21 dias. Enquanto isto, no projeto do Açu, embora se tenha perspectivas do trabalho de prospecção de petróleo, com plataformas e técnicos em petróleo atuando na OGX, todos os demais empreendimentos previstos, prevêem a manutenção residencial em, São João da Barra ou Campos. Por conta disso, na própria estimativa de empregos a serem gerados nos próximos 15 anos, mesmo a menor delas, o adensamento populacional será bem maior do que a vivida por Macaé e Rio das Ostras como base das operações off-shore da Petrobras e demais empresas ligadas a esta cadeia produtiva. Portanto, ao se falar de impactos sociais e ambientais, a priori, há que se perceber, que, mesmo se apenas parte do que está planejado para a próxima década e meia, se viabilizar, eles tenderão a ser maiores e mais preocupantes, até, pela distância, da base do distrito industrial e do porto, no Açu, às sedes dos dois municípios: SJB e Campos. É oportuno que não se esqueça deste “detalhe”. Neste sentido, além daquilo que até os que não sabem o que é planejamento estratégico, já perceberam, a existência de mais habitantes, significará mais escolas (mais professores, merendeiras, etc.), postos de saúde, hospitais (mais médicos, enfermeiros, atendentes, etc.), habitação e saneamento (mais engenheiros, técnicos, pedreiros, etc.) e acima de tudo, planejamento urbano, programa de transporte público abrangente e eficiente dentro e entre os municípios, etc. Nesta linha, acima de tudo, as gestões locais e a sociedade devem exigir mecanismos de regulação clara e firme sobre ocupação do solo, responsabilidades dos empreendedores com o transporte, com a saúde dos seus funcionários, com a sua segurança no trabalho, com o seu lazer e tudo isto dos seus familiares. É preciso acima de tudo, determinar o que pode e o que não se pode fazer. Isto é regulação, papel do estado ou do agente público. É necessário determinar as exigências e o compromisso dos empreendedores com o bem-estar de todos que aqui lhe ajudarão a ter lucros. Tudo isto é diferente, bem diferente de se fazer concessões, apoiar projetos, construir pedaço de rodovia ou algumas salas de aula ou algo do gênero. Voltando à observação sobre o caso de Macaé, é oportuno perceber a relação da Petrobras com a comunidade macaense. Ela merece ser avaliada para se compreender e definir a relação que a nossa sociedade pretende ter com o grupo empresarial que gere o projeto logístico-portuário do Açu. Pretende-se uma relação paternalista e financiadora de projetos ou uma relação que possa gerir de forma conjunta e participativa, as mudanças que o empreendimento deverá gerar em toda a região, mas de forma mais específica e contundente nos municípios de São João da Barra e Campos? Bom que se pense estas e outras questões. Necessário ainda, que se priorize a identificação dos principais mecanismos de regulação, ligados especialmente, aos Planos Diretores destes dois municípios. Além dos licenciamentos ambientais, a cargo, do Inea, o município-sede do empreendimento pode e deve ampliar as exigências de compensações para reduzir as demandas sociais e ambientais sobre a limitada capacidade de fazer do município. Será inaceitável que o governo do estado continue distante destas e de outras questões sobre a implantação do projeto do Açu, se sustentando apenas com o discurso da atração do investimento que aqui aportou, apenas pela oportunidade da localização geográfica estratégica, aliada a baixos custos de terra, defronte ao litoral rico em petróleo e próxima dos grandes centros consumidores do país. Por último, mas, não menos importante, é incompreensível que os gestores, os técnicos e os setores da sociedade civil dos dois municípios mais impactados com o projeto do Açu, não sentem, não se reúnam, não dialoguem para analisar e projetar legislações, ações e metas a serem desenvolvidos neste processo. O caminhar se faz caminhando, porém, sem planejamento, o futuro poderá ser pior que o presente e, todos nós teremos responsabilidades sobre estes desdobramentos.

13 comentários:

fulinaíma produções disse...

Roberto excelente análise, reproduzi no blog http://goytacity.blogspot.com

grande abraço
artur gomes

Anônimo disse...

Excelente analise! O que esta faZendo para mudar essa futura condição? Digitando letrinhas?

Roberto Moraes disse...

Letrinhas que lhe fazem pensar e até criticar, o que por si só, já é uma contribuição, além da divulgação e democratização das informações sobre o empreendimento.

Fora isto, o blogueiro, no seu humilde trabalho profissional de educador contrubui para a formação do nosso povo.

A discussão que proponho é mais ampla e menos individual como alguns tacanhamente insiste em fazer.

Humildemente, convido você amigo a vir para o debate, saindo destas picuinhas particulares que tanto atraso tem trazido para a nossa região.
Abs.

Anônimo disse...

O PAPEL IMPORTANTE DO GEÓGRAFO NESSE CONTEXTO, QUE É DESCARTADO PELA SOCIEDADE.

Anônimo disse...

Ótima análise professor! Mas tenho uma dúvida e gostaria de sua análise.
Os impactos deste grande projeto, sejam positivos ou negativos, serão sentidos, claro, nas duas cidades mencionadas na sua postagem. E as outras cidades de nossa região? Cidades menores como São Fidélis, São Francisco também serão impactadas por este projeto em São João da Barra?

Anônimo disse...

Caro Professor e Engenheiro Roberto Moraes,
"O caminhar se faz caminhando, porém, sem planejamento, o futuro poderá ser pior que o presente e, todos nós teremos responsabilidades sobre estes desdobramentos".
É necessário que as forças vivas da sociedade campista aí incluído o empresariado, as universidades, e todas as lideranças locais cobrem dos Poderes Executivo e Legislativo dos municípios de São João da Barra, Campos dos Goitacazes e Quissamã a Revisão do Plano Diretor local com abrangência regional além da construção em sintonia com a sociedade através de audiencias públicas da elaboração de Planos Diretores de Transito e Transporte, Planos Diretores de macro -drenagem para que se discipline o uso do solo urbano .
Sem planejamento não haverá solução.
Conte comigo.
Saudaçoes campistas

Mendel disse...

Roberto,

Este adensamento traz em seu bojo boas e más consequências, parte delas relatadas por você no texto postado.
Penso eu que a solução destes "riscos" iminentes resida na conscientização da classe política, legislativa e executiva, uma vez que são estes que determinam as diretrizes a serem seguidas pela municipalidade campista.
"Pari passu", a sociedade deve se organizar de forma consciente para cobrar, também de forma consciente, que sejam tomadas atitudes, bem como para fiscalizar as atitudes já tomadas.

Em que pese o fato de anônimos entenderem que "digitar letrinhas" não é um atitude dirigida a mudança, entendo que este seja, ao menos, o início da conscientização e da colocação do problema em discussão para, com os exemplos próximos passados, evitar aborrecimentos futuros.

Enfim, perdoe o "livro" escrito, mas acredito ser o assunto de suma importância e que por isso merece uma análise mais aprofundada.

Abraço!

Mendel

Jornalista católico disse...

Realmente tudo é uma questão de planejamento, mas também devemos pensar, quantos anos tem o plano diretor e a lei organica das duas cidades?Não será que existem coisas extramentes superadas?É uma questão que deveria ser pensada, pois creio que as vésperas de recebermos toda as consequências mais práticas do porto do açú, as duas cidades ainda se mostram com pensamentos bastante provincianos.

Anônimo disse...

Roberto, acho o seu pensar muito coerente, muito certo. Bela análise.Há comentários infundados e desqualificados. Os autores já os conhecemos de longa data.

Anônimo disse...

¨Digitar letrinhas¨pode contribuir para que sejam levantadas questões que apurem o pensamento crítico em alguns e desperte-no em outros.
Espero que o anonimo das 2:14h tenha despertado em si a capacidade crítica saudável, e que, a partir da leitura dessa ótima análise, se torne um engajado nas causas do município.
Para que surja uma cidade mais elevada qualitativamente , faz-se necessário um maior número de campistas mais conscientes, menos alienados, e nesse momento então , teremos conceito e ação imbricados e trabalhando juntos para que as futuras gerações vejam o trabalho ¨com letrinhas¨,mais um modo importante de fazer do local em que vivem um lugar aprazível e socialmente justo.

c.barreto.3@hotmail.com disse...

Prezado Roberto. Fico triste, com falta de visão de nossos dirigentes, inclusive, com coisas "menores", tipo, o que falta para a abertura do pedaço que interligará a Av. Liberdade, Grussaí, à mesma Av. passando por Chapéu de Sol? Além de via alternativa, facilitará, o escoamento do transito entre Grussaí a Atafona, Chapéu de Sol e São João da Barra. A rodovia Litoranea, por si só, não suporta mais o trafego de hoje; imagino daqui a alguns dias...Recentemente, um acidente de transito na aludida, obrigou que os motoristas, a retornarem aos pontos de origem, Grussaí-Atafona, pois, a mesma, ficou interditada, para os serviços atinentes ao evento, causando um engarrafamento enorme, nos dois sentidos, pela falta da via alternativa. Pergunto eu: Se uma simples operação como esta (abertura da via alternativa) não é realizada, o que esperar de resoluções e execuções maiores? Com a palavra, quem de direito. Até a próxima.

Anônimo disse...

Lendo essa noticia lembrei,q hj passando pela tapera vi que casas estão sendo demolidas,e soube que estão indo para as casas da prefeitura,felizmente algum governante com bom senso nessa planície.

denis disse...

Professor, sou morador do Açu e vejo que as autoridades até agora pouco fizeram ou nada em relação as moradias e controle urbano, de certo que é uma problemática antiga, mas que vem crescendo e ninguém fez nada para mudar. Acredito que pelo andar da carruagem, SJB e Campos podem ficar pior que Macaé, pois o processo de "evolução" de Macaé se deu de forma mais lenta do que o previsto em SJB e Campos, as expectativas de crescimento humano e econômico em nossa região é maior e em um período menor do que o de Macaé. Gostaria de enxergar de outra forma, mas o progresso não trará o desenvolvimento social e humano junto.