quinta-feira, março 16, 2006

Gadelha, marketeiro que já trabalhou para Garotinho e Campista analisa o quadro político-eleitoral

Ainda tentando repercutir e ajudar na análise sobre o processo eleitoral local, este blog traz para você um bate-papo por e-mail que se transformou em entrevista com o conhecido e criativo publicitário Hayle Gadelha. Gadelha como é mais conhecido é também poeta, consultor de marketing, jornalista, publicitário e cartunista. Hoje toca a empresa “Gadelha Comunicação” e como ele mesmo gosta de dizer: “nasci em dia de eleição e de alguma forma atuo em campanhas políticas desde 70”. Gadelha é um cara tranqüilo, simpático e de fácil relacionamento já participou de dezenas de campanhas. As mais significativas e recentes foram a de Benedita para o senado em 1994, Garotinho para o governo do estado em 1998 e no segundo turno para em 2004 para o candidato do PDT, Carlos Alberto Campista. Esta última participação o faz acompanhar, quase que diariamente, mesmo que seja pela internet o dia-a-dia da nossa cidade. Gadelha atendendo o convite do blog falou não só sobre Campos, mas sobre o marketing eleitoral e também sobre as perspectivas para a eleição presidencial de outubro próximo. Veja a entrevista completa abaixo. 1) Na condição de profissional de propaganda e marketing político você tem acompanhado a situação política de Campos desde 2004. Pergunto: Você julga que o prefeito eleito neste pleito poderá ter garantia e conseqüentemente tranqüilidade para governar até 2008? Não. Campos acabou se transformando em um dos maiores exemplos do caos jurídico-eleitoral. Tudo ainda por acontecer, inclusive nova eleição ou o retorno do Campista. Campos vive uma administração provisória há quase um ano. E provavelmente vai continuar assim. 2) Como você explicaria a polarização verificada no primeiro turno? Pode-se dizer que a propaganda e o marketing pouca importância tiveram no resultado? O cenário ficou muito igual ao de 2004 e o voto útil prevaleceu. Acho que o Feijó percebeu isso e não queria se candidatar. (Tinha gente da equipe dele que chegou ao absurdo de afirmar que não seria bom vencer!) Saiu prejudicado. O Makhoul me parece que se iludiu. E o Garotinho achava que poderia vencer com uma diferença maior ou até mesmo ter mais de 50%. O marketing e a comunicação sempre têm importância. É que esse formato foi diferente e a eleição trouxe de volta o clima anterior. As pessoas, saturadas, tentaram o segundo turno no primeiro... 3) A situação do candidato do PMDB parece muito delicada pelo índice de rejeição ao líder Garotinho e ao seu próprio nome. Você acha possível reverter este quadro? Realmente, Garotinho funciona como o verdadeiro candidato. Essa é a postura que ele assume. E Campos, segundo informação que tive de pesquisas realizadas, se sente como “mulher traída” em relação a ele. Campos foi “trocada” pelo Rio, por Macaé, por Brasília, etc. Se ele vive sempre distante, como pode pretender ser o prefeito? É possível reverter o quadro, sim. Mas fica cada vez mais difícil. Quando ele for eleito Presidente (já que sempre há essa possibilidade...), talvez o sentimento de “traição” se transforme em “orgulho”. De qualquer forma, se isso acontecer, não será agora. 4) Como explicar o fato da população majoritariamente ter a visão de que os majestosos recursos do orçamento estão sendo mal utilizados e ainda assim continuam a fazer opção pelos candidatos da situação? A população majoritariamente é muito imediatista. Se minha rua foi asfaltada, a administração é boa... Se consigo bom lugar na fila do atendimento médico, tô gostando... Um bico na prefeitura, então, nem se fala. Não há desonestidade nisso. As necessidades são muitas, intensas e imediatas. 5) Mudando para o quadro nacional: Depois do desgaste da imagem do Duda Mendonça pela relação que acabou tendo com o esquema do Marcos Valério você acha que os profissionais da área continuarão a ter a importância na montagem das mídias de campanha ou a tendência é do marketing político se restringir às propagandas de governo? Houve uma grande confusão nisso tudo. É verdade que o Duda é um profissional de marketing e também de publicidade. O Marcos Valério, pelo que sei, era da área financeira de uma empresa de publicidade. No final, deu tudo no mesmo, e a imagem do publicitário ficou prejudicada. Eleição necessariamente é marketing e comunicação. Assim, sempre vai exigir a ação de um homem de marketing – na maioria das vezes o próprio candidato, com apoio (ou não) de um consultor. O publicitário, com essa função específica, sempre foi mais ou menos dispensável. Mas sempre é bom contar com bons profissionais de comunicação. Nas propagandas do governo, na verdade, falta uma boa consultoria de marketing. No caso da comunicação do Governo do Estado, existe um ótimo profissional – o próprio Garotinho. 6) O Ibope divulgou uma nova pesquisa hoje que mais uma vez mostra o que muitos achavam impossível um crescimento ainda maior de Lula depois do inferno astral que viveu ano passado. Como explicar este fenômeno? Em primeiro lugar, a máquina. Isso nunca deve ser minimizado, principalmente quando conta com um bom marketing. Não podemos esquecer que boa parcela da população pobre entrou no mercado de consumo, graças aos bolsa-família e à política de crediário com prestações baixas. Outro fator é a simpatia pessoal do Lula. Quero lembrar ainda que historicamente as candidaturas presidenciais representam o eixo nordeste-sudeste (27% + 44% = 71% do eleitorado): Tancredo-Sarney, Collor-Itamar, Fernando Henrique-Marco Maciel. O Lula, sozinho, representa esse eixo. Ele é pernambucano e paulista ao mesmo tempo. 7) Dá para um marqueteiro criar empolgação com um picolé de chuchu como Alckmim? Tudo é possível. No caso específico, eu teria que ter melhores informações para afirmar qualquer coisa. Acho difícil...

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